A granja
Num imenso balcão,
O tempo passa e não conseguem perceber que a morte se aproxima.
Embora ventilado e cheio de verde à sua volta,
Galinhas disputam.
Este é um ambiente diverso do que se vê normalmente.
Não são todas iguais, brancas.
Há galinhas de todos os matizes:
vermelhas,
pretas,
marrons,
brancas.
No seu linguajar monossilábico,
Parecem discutir.
Uma tenta cacarejar mais alto do que a outra.
Estufam o peito.
Batem asas.
Brigam entre si,
querendo dar
razões às suas ideias,
Quando não percebem que são todas elas,
simplesmente,
galinhas.
todas,
condenadas, à princípio.
Um homem de botas as visita.
Veem nele um tipo estranho:
O homem
que traz a comida
e a
água — o que o transformou em seu líder.
Ele também anota números em uma placa,
Como que em uma contagem regressiva para o abate.
Elas, porém, não desconfiam de nada,
Porque veem as palavras, mas não as entendem.
Elas veem os números, mas não sabem contar.
Ninguém ensina galinhas a ler.
Por esta falta em sua instrução,
Não imaginam elas que as cercas são arames frágeis,
fáceis de se romper.
Ou ainda que,
a placa que diz:
SAÍDA,
Pode lhes
valer a vida.
Mais ao fundo, algumas doentes,
Aleijadas pelo rompante de suas ideias,
Porém ignoradas pela massa,
Morrem solitárias.
Dir-se-ia serem talvez as poetas naquela língua,
ou ainda, pensadoras daquele lugar
Que, do empirismo do seu pensamento,
Almejaram mudar seu destino.
Mas tudo continua monossilábico.
Pensamentos e palavras rasas,
Superficiais,
Que selam fatalidades;
Ou ainda que as mantém confinadas.
O tempo passa e não conseguem perceber que a morte se aproxima.
Mas porque minha preocupação com tudo isso?
Galinhas não votam.
Frederico Ferreira
Nota: Texto publicado no endereço https://coracaorevolto.blogspot.com/2018/01/a-granja.html no dia 16 de Janeiro de 2018
Nota: Texto publicado no endereço https://coracaorevolto.blogspot.com/2018/01/a-granja.html no dia 16 de Janeiro de 2018
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